Salé

Salé é uma cidade histórica situada na margem norte do rio Bouregreg, mesmo em frente à capital Rabat. Muitas vezes vista como apenas uma “cidade-dormitório” da capital, Salé é, na verdade, uma das cidades mais antigas e influentes do Magrebe, com uma identidade própria, forte sentido comunitário e um património riquíssimo. Aqui, entre mesquitas centenárias, muralhas de pedra e bairros populares, vive-se um quotidiano tradicional e autêntico, fora do olhar turístico convencional.


História de Salé

Fundada no século XI pelos berberes zenatas, Salé cresceu como uma cidade comercial portuária graças à sua posição estratégica na foz do rio Bouregreg. No século XIII, tornou-se um centro importante de saber islâmico, com mesquitas, escolas corânicas e tribunais.

Mas foi entre os séculos XVII e XVIII que Salé ganhou notoriedade internacional como república corsária. Durante esse período, foi praticamente uma cidade independente, conhecida pela chamada República do Bouregreg, onde corsários muçulmanos atacavam navios europeus no Atlântico. O dinheiro dos resgates e do comércio marítimo ajudou a construir grande parte da sua medina fortificada.

Hoje, embora mais discreta, Salé mantém uma alma rebelde e espiritual, e uma população profundamente ligada à sua história e religião.


Informações demográficas

Em 2025, Salé conta com aproximadamente 1,1 milhão de habitantes, sendo a sexta cidade mais populosa de Marrocos. É considerada uma das cidades com crescimento urbano mais rápido do país, acolhendo milhares de famílias que trabalham em Rabat mas vivem em Salé, devido ao custo de vida mais acessível.

A cidade é composta por bairros como Tabriquet, Bettana, Hay Salam, Hay Rahma, Sidi Moussa e o centro histórico dentro das muralhas. A maioria da população é jovem, trabalhadora e religiosa, com forte sentimento de comunidade.


Economia e indústria de Salé

A economia de Salé gira em torno de:

  • Comércio local e mercados populares, com grande atividade informal.
  • Transporte e serviços urbanos ligados a Rabat.
  • Artesanato tradicional, especialmente tapeçaria e marroquinaria.
  • Construção civil e imobiliário, com urbanização acelerada em bairros periféricos.
  • Pequena indústria e oficinas, concentradas em zonas como Hay Inbiat.

Apesar de economicamente dependente da capital, Salé tem vindo a afirmar-se com projetos de desenvolvimento local, como centros culturais e incubadoras de juventude.


O que visitar em Salé

Embora Salé receba menos visitantes que Rabat, oferece atrações culturais e históricas de grande interesse:

  • Medina de Salé: muralhada, com ruelas antigas, souks tradicionais e atmosfera autêntica.
  • Grande Mesquita de Salé: uma das mais antigas do país, do século XI.
  • Mausoléu de Sidi Abdellah Ben Hassoun: patrono espiritual da cidade.
  • Bab Mrissa: uma das maiores portas fortificadas do país, ligada à antiga atividade corsária.
  • Marina Bouregreg: moderna, ligando Salé a Rabat com cafés e passeios ribeirinhos.
  • Escola corânica tradicional (medersa): com arquitetura andaluz preservada.

Clima em Salé

Salé partilha o mesmo clima que Rabat: mediterrânico com influência oceânica. Os verões são suaves, com máximas entre 27°C e 30°C, e os invernos amenos, raramente abaixo de 8°C. A humidade é moderada, e a cidade goza de muitos dias de sol por ano, com chuvas ocasionais no inverno.


Educação e saúde em Salé

Educação

  • Rede de escolas públicas e privadas, com boa cobertura nos bairros urbanos.
  • Institutos de formação profissional e técnica, voltados para eletricidade, carpintaria, restauração e serviços urbanos.
  • Centros corânicos tradicionais, ainda ativos na medina.

Saúde

  • Hospital provincial de Salé: principal referência médica da cidade.
  • Centros de saúde municipais em todos os bairros principais.
  • Clínicas privadas e centros pediátricos, em expansão.

Embora alguns moradores ainda recorram a hospitais de Rabat, Salé tem visto melhorias constantes no setor da saúde.


Transportes e acessibilidade

Salé está totalmente integrada na área metropolitana de Rabat:

  • Tramway Rabat-Salé: rápido, limpo e eficiente, liga a medina ao centro de Rabat em minutos.
  • Estação ferroviária ONCF: comboios regionais e nacionais passam por Salé Ville.
  • Aeroporto Internacional de Rabat-Salé: principal acesso aéreo da região.
  • Autocarros, petit táxis e carrinhas partilhadas, em abundância por toda a cidade.

A ponte Hassan II liga as duas margens do rio Bouregreg, facilitando o acesso diário entre Salé e Rabat.


Tradições e eventos em Salé

Salé é uma cidade tradicional e profundamente religiosa. Entre os eventos e costumes mais marcantes:

  • Moussem de Sidi Abdellah Ben Hassoun: uma das procissões espirituais mais antigas e respeitadas do país, com barcos decorados no rio Bouregreg.
  • Festas do Mouloud e do Aid: celebradas com intensidade nas ruas e nas mesquitas.
  • Rituais sufi e noites de dhikr, sobretudo na medina antiga.
  • Mercados semanais e festas locais nos bairros populares.

A cultura em Salé é mais vivida do que exibida — discreta, mas profundamente enraizada.


Curiosidades sobre Salé

  • Durante o século XVII, Salé foi considerada “capital dos piratas muçulmanos do Atlântico”.
  • A cidade rivalizou com Rabat na história, chegando a recusar várias vezes a autoridade central.
  • Salé tem uma das maiores medinas urbanas do país, ainda pouco transformada pelo turismo.
  • É uma cidade conhecida por produzir mestres do Alcorão e grandes estudiosos religiosos.
  • O tramway que liga Salé a Rabat é um dos mais eficientes de África.

Viver em Salé Marrocos

Viver em Salé é escolher um estilo de vida mais calmo e tradicional, com:

  • Custo de vida mais acessível do que em Rabat.
  • Habitação variada: desde apartamentos económicos a moradias modernas nos arredores.
  • Comunidade familiar e espírito de vizinhança forte.
  • Proximidade imediata à capital, sem perder as raízes locais.

Ideal para famílias marroquinas, jovens trabalhadores e pessoas que valorizam tradição, fé e uma vida comunitária.


Considerações finais

Salé é uma cidade com alma. Tem história, tem cultura, tem fé — e cada pedra das suas muralhas conta uma história de resistência e identidade. É uma cidade que vive à sombra da capital, mas que, para quem a conhece bem, tem luz própria, autenticidade e uma força que se sente em cada rua.